Escárnio no Maraca
Carlos Alberto Parreira continua dizendo que futebol e política não se misturam.
Vinda dele a declaração não assusta, já que é conhecida sua forte ligação com João Havelange, que trabalhou na antiga CBD nos tempos da ditadura, e seu ex-genro, Ricardo Teixeira. Parece que se esquece de muitos episódios que vivenciou, de perto ou de longe, entre os quais a Copa de 1978, na Argentina.
E mesmo a recente Copa das Confederações, com manifestações populares questionando os gastos com o Mundial no Brasil e exigindo escolas e hospitais no chamado padrão Fifa. A própria Copa das Confederações não deixou de servir de estímulo e holofote aos protestos.
E a final no Maracanã foi emblemática. Dilma Rousseff e Sérgio Cabral ausentes, por motivos óbvios, e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, tendo a cara-de-pau de levar em avião da FAB sete pessoas, entre as quais sua noiva, dois filhos e um irmão dela, acompanhado da mulher, além do próprio filho. Na volta, um amigo do irmão da noiva viajaria com a turma, que saiu de Natal rumo ao Rio para passar o final de semana e curtir a decisão no Maracanã.
Ainda postaram comentários e fotos nas redes sociais, como se estivessem caçoando do povo brasileiro que saiu às ruas para reclamar também desse tipo de mordomia e do descaso com que tratam o dinheiro público.
Só depois de a “Folha de S. Paulo” ter divulgado o fato, Alves afirmou ter cometido um erro ao permitir que amigos e familiares pegassem carona no voo da Força Aérea Brasileira. E disse que vai pagar R$ 9,7 mil aos cofres públicos por isso.
Mordomias à parte, o governo do Rio insiste que o Maracanã seja concedido a consórcio que tem participação de uma das empresas do grupo de Eike Batista, que está indo para o buraco, aliás. E nos levando junto, afinal somos sócios, via Caixa Econômica Federal e BNDES, dos negócios do empresário… É de matar de raiva.
E enquanto isso a Prefeitura de São Paulo, aquela mesma dos R$ 0,20 da passagem de ônibus, erra em cobrança de ISS, o sujeito tem de pagar com multa e juros e, quando ressarcido do valor que desembolsa a mais indevidamente, não recebe com a mesma correção. Isso depois de muita burocracia. Põe burocracia nisso.
No Brasil definitivamente uns são mais iguais que os outros, lembrando, mais uma vez, o extraordinário “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell. Mais atual que nunca.
Apesar dos pesares, um ótimo final de semana desde já a todos, João