FUTEBOL CRUCIFICADO
(Foto: Paulo Sérgio/LANCE!Press)
A imagem acima é apenas um dos registros assustadores que tivemos ontem em Joinville.
É a imagem da vitória da violência, do ódio, da irracionalidade.
Grupos de fascínoras travestidos de torcedores de Atlético Paranaense e Vasco foram ao estádio para matar uns aos outros.
Tentaram de todas as formas, até com barras e pés de mesa, e não conseguiram por sorte, por milagre, porque o corpo humano é, ao mesmo tempo, tão frágil e tão forte.
A intenção de matar é indiscutível.
Veja os vídeos do Lancenet! e da ESPN. Quem golpeia a cabeça de uma pessoa no chão, desacordada, pretende fazer o quê?
O combate de ontem ainda teve características medievais, com rivais abatidos e deixados nus.
Dizem que entre essas gangues uniformizadas, a camisa de uma facção rival é considerada um troféu. É o código insano de quem não tem capacidade de pensar.
Por desgraça, tal capacidade também tem faltado a quem toma decisões ligadas à segurança em jogos de futebol.
A Polícia Militar de Santa Catarina não estava dentro da Arena Joinville, o que se configurou um convite à batalha entre atleticanos e vascaínos.
Se a ausência foi uma resolução da própria PM ou uma determinação do Ministério Público, importa menos do que o tamanho do equívoco que se cometeu.
Não havia segurança capaz de evitar que a barbárie acontecesse, ou combatê-la pelos longos minutos que se passaram antes de os policiais finalmente entrarem no estádio.
É possível que alguém tenha imaginado que esse tipo de “torcedor”, com o histórico bélico que se conhece, se comportaria com educação e gentileza num estádio desprotegido.
Não, não é função da PM fazer o trabalho de segurança interno em estádios de futebol. Há evidentes problemas na maneira como a polícia lida com multidões. O ideal seria que houvesse outra maneira de garantir ordem nas arquibancadas.
Mas não existe outro grupo no Brasil que saiba, por experiência, lidar com esses imbecis. E enquanto não existir, retirar a PM dos estádios é alimentar tragédias.
É o equivalente a deixar a porta da sua casa aberta durante a noite e tentar convencer o ladrão a ler um livro.
Um erro monumental.
Conhecemos a teoria de como a questão da violência no futebol pode ser resolvida. Identificação com uso de inteligência, processo, julgamento e punição eficiente.
Prender e manter preso quem comete o crime.
Se houver conivência de clubes, punição esportiva dura para os envolvidos.
Mecanismos que parecem utópicos pela repetição de casos, de discursos inócuos e medidas ineficientes.
Muita gente já se beneficiou da “luta pela paz no futebol” e a paz nunca chegou. Ainda não apareceu ninguém disposto a realmente agir.
Provavelmente só acontecerá quando tivermos uma grande tragédia em um estádio brasileiro.
Quase aconteceu ontem, a seis meses da Copa do Mundo no país.