CAMISA 12
(publicada ontem, no Lance!)
O RATO ROEU…
– Bom dia, Majestade.
– Bom dia por que, infeliz? Você sabe que dia é hoje?
– Sim, Majestade. É o último dia de seu reinado.
– Então não pode ser bom, não acha? Ou você imagina que estou imensamente satisfeito com tudo isso?
– Claro que não, Majestade. Claro que não. Eu apenas penso, se o senhor me permite, no lado bom.
– Bom? Como assim? Se fosse bom eu já teria tomado essa decisão antes. Ainda bem que você é meu mordomo, não meu conselheiro…
– Sim, senhor. Já estamos indo? Devo preparar a carruagem?
– Ainda não. Quero retardar esse momento ao máximo. Meu estômago se revira, a cabeça dói só de pensar em dar tamanha satisfação a essa terra de ingratos. Não percebem o quanto avançamos nos últimos 23 anos! Não enxergam que, graças a mim, estamos diante de oportunidades que nunca tivemos!
– São ignorantes, senhor.
– Eu deveria ser aplaudido nas ruas e nem posso pisar na calçada. Só tenho tranquilidade quando estou no exterior. E mesmo assim as mensagens não param de chegar. Denúncias desses malditos fofoqueiros, investigações sobre meus negócios. Eu c… e ando para eles, mas chega uma hora em que dá vontade de mandar tudo à m…
– Calma, Majestade. Eles não merecem sua irritação.
– Eu sei! Mas agora é tarde. Eu sabia que não poderia confiar nos suíços. Eles me prometeram segredo sobre aquela… você sabe. Canalhas! O Rei deles não fazia nada sem me consultar, agora finge que não me conhece… aquele traidor. Preciso me antecipar, não tem mais jeito.
– Lamento muito, senhor. Mas veja: depois de hoje, Vossa Majestade não terá mais de lidar com essas preocupações. Poderá escolher um lugar paradisíaco e esquecer de tudo.
– Não precisava ser assim… eu já tinha preparado a minha retirada para daqui a dois anos. Teria o gostinho de vê-los todos comendo na minha mão. Mas parece que um complô se formou. Esses coitados ainda terão saudades de mim.
– Não tenho dúvida, Majestade. O momento é agora, o Carnaval está chegando. Resolva tudo hoje e, na próxima semana, ninguém se lembrará desse assunto.
– Meu conselheiro disse a mesma coisa…
– Peço a carruagem, Majestade?
– Sim, pode pedir. Chegou a hora.
ENROLADO
O repórter Sérgio Rangel, da Folha de S. Paulo, comprovou ontem a ligação de Ricardo Teixeira com a Ailanto Marketing, empresa investigada por fraude no amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008. A Ailanto recebeu R$ 9 milhões do governo do Distrito Federal para organizar o jogo. Em lugares onde as coisas são feitas com seriedade, apenas este caso já seria suficiente para, no mínimo, resultar no afastamento do presidente da CBF.
IMPORTADO
E enquanto, uma vez mais, os campeonatos estaduais impressionam pela ausência de graça e de bom futebol, eis que a cabeça boa de Loco Abreu sugere mudanças, propõe um novo formato para o torneio do Rio de Janeiro. Abreu apontou problemas e apresentou soluções. Foi preciso um jogador estrangeiro, que gosta do futebol brasileiro, dizer publicamente que algo precisa ser feito. Exemplo para seus colegas daqui, sempre em silêncio.
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Mudando completamente de assunto: temos um post sobre “Moneyball”, ali no Mais Gelo. Se tiver interesse, passe lá.